Vulcão Puyehue transforma a paisagem de cidades na Argentina

Nos últimos dias, o tempo fechado prejudicou a visão da erupção do vulcão Puyehue, que há uma semana lança rochas, cinzas e gases no Chile. No entanto, quando o tempo limpa, é possível avistá-lo.

A nuvem de cinzas expelida pelo vulcão, que viaja conforme a direção dos ventos, prejudicou voos de aeroportos na Argentina, Uruguai e Paraguai. No Brasil, a nuvem causou cancelamentos principalmente no aeroporto de Porto Alegre. No sábado (11), a nuvem andava em direção ao Oceano Atlântico e, neste domingo (12), chegou a prejudicar voos na Austrália.



O Puyehue tem 2.440 metros de altura e fica na Patagônia chilena, em meio à Cordilheira dos Andes. As duas cidades mais populosas próximas ao vulcão são Osorno, no Chile, e Bariloche, na Argentina. Desde a última erupção, em 1960, o Puyehue não dava sinais de perigo. No último sábado (4), o vulcão despertou e transformou as paisagens próximas ao local.

No dia da erupção, Bariloche foi uma das cidades mais atingidas. Desde então, as cinzas haviam parado de chegar à cidade argentina. Porém, no sábado (11), a nuvem voltou com força à região, deixando a cidade coberta por cinzas. Os poucos moradores que se arriscavam a sair de casa se protegiam do jeito que podiam. “Eu tenho que trabalhar”, justifica um homem usando óculos escuros. As cinzas invadiram a cidade e quase não permitem que as pessoas fiquem nas ruas.

O cenário é ainda mais desolador em Villa La Angostura, uma das mais charmosas da região. Mesmo localizada na Argentina, a cidade está a apenas 37 quilômetros do vulcão. Além das cinzas, La Angostura foi soterrada por uma espécie de areia grossa. Há uma semana, moradores e comerciantes tentam desobstruir ruas e limpar telhados. Segundo um vendedor local, os turistas foram embora.

Como a temporada de inverno começa em pouco tempo, a pista de esqui deveria abrir no dia 1º de julho. Até lá, o dono de um restaurante da cidade garante que todos os funcionários irão trabalhar duro e esperar que as cinzas vão embora para dar lugar à neve.

Vulcão no Chile - vista de San Martin de Los Andes na Argentina (Foto: Reuters)Nuvem de cinza vulcânica da cidade de San Martin de Los Andes, na Argentina (Foto: Reuters)

Paisagem transformada
Uma pedra expelida na erupção e levada pela chuva e pelos rios dá a impressão de que o chão está se movendo. No entanto, como a pedra é porosa e leve, ela formou uma espécie de cobertor que cobre boa parte do lago de Puyehue. Desde a margem, são pelo menos 100 metros de pedras, que dão uma pequena amostra da quantidade de material expelido pelo Puyehue.

Uma estrada asfaltada desapareceu devido às cinzas e rochas vulcânicas, que formaram uma camada de cerca de meio metro de detritos. Como o vento mudou de direção e levou a nuvem de cinzas para a Argentina, o amontoado de detritos é resultado dos três primeiros dias da erupção.

No entanto, a enorme coluna de gases e cinzas não sai da boca do vulcão e, sim, de fissuras que se estendem ao longo de 15 quilômetros do chamado Cordón Caulle. O material sai de vários pontos com muita pressão, como se fosse um “spray”.

Em toda a região próxima ao vulcão, pelo menos 3,5 mil pessoas tiveram que deixar suas casas. Agora, o grande perigo está nos rios. O Rio Nilahue, que antes era cristalino, está com uma cor de chocolate. Além disso, a temperatura da água chegou a 45°C devido ao material incandescente que caiu sobre o rio.

Segundo um técnico do governo, os detritos do vulcão podem bloquear o leito temporariamente. Assim, no momento que o rio represado estourar, pode criar uma onda e destruir as casas próximas. Por conta disso, a polícia tenta convencer as famílias que insistem em ficar no local.

Uma moradora, que sempre viveu perto do vulcão, afirma que o pior já passou e garante que não tem medo do Puyehue, que sempre esteve quase no quintal da sua casa. Já dois agricultores resolveram sair depois que ouviram o rugido do vulcão e sentiram o chão tremer durante a noite. “Foi terrível”, conta um deles. “O chão, a casa e as janelas tremiam”. Um casal de brasileiros, que há alguns meses viaja em um carro-casa, estava próximo do vulcão no dia da erupção e registraram a força do Puyehue em fotos.